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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

No Fundo Somos Bons Mas Abusam de Nós


O comum das gentes (de Portugal) que eu não chamo povo porque o nome foi estragado, o seu fundo comum é bom.
 Mas é exactamente porque é bom, que abusam dele. 
Os próprios vícios vêm da sua ingenuidade, que é onde a bondade também mergulha.
 Só que precisa sempre de lhe dizerem onde aplicá-la.
 Nós somos por instinto, com intermitências de consciência, com uma generosidade e delicadeza incontroláveis até ao ridículo, astutos, comunicáveis até ao dislate, corajosos até à temeridade, orgulhosos até à petulância, humildes até à subserviência e ao complexo de inferioridade.
 As nossas virtudes têm assim o seu lado negativo, ou seja, o seu vício.
 É o que normalmente se explora para o pitoresco, o ruralismo edificante, o sorriso superior. 
Toda a nossa literatura popular é disso que vive.
Mas, no fim de contas, que é que significa cultivarmos a nossa singularidade no limiar de uma «civilização planetária»? 
Que significa o regionalismo em face da rádio e da TV?
 O rasoiro que nivela a província é o que igualiza as nações. 
A anulação do indivíduo de facto é o nosso imediato horizonte.
 Estruturalismo, linguística, freudismo, comunismo, tecnocracia são faces da mesma realidade. 
Como no Egipto, na Grécia, na Idade Média, o indivíduo submerge-se no colectivo. 
A diferença é que esse colectivo é hoje o puro vazio.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

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