O “Santo” se preparou por uma semana, mas não conseguiu segurar o choro. Nesta quarta-feira, Marcos se despediu do futebol, dos palmeirenses e de outros milhões de admiradores em uma coletiva que teve duração superior a uma hora. Logo nas primeiras palavras, a constatação: não dava mais para continuar jogando com as dores insuportáveis que sentia há anos. Por isso, Marcos teve de sair de cena nos gramados para entrar de vez na eternidade, como o ídolo mais humano, mais próximo do palmeirense em 97 anos de história do clube.
– São 20 anos de Palmeiras e tenho dificuldade de estar aqui num momento como esse. Eu me preparei uma semana para estar aqui hoje falando sem chorar. Tive essa oportunidade de me tornar um jogador profissional e jogar no time que eu gostava. Agradecer a todos que jogaram comigo, a todos os treinadores. Cheguei onde cheguei não foi sozinho, foi com a ajuda dos meus familiares, mãe, finado pai, irmãos, mulher, filha... Queria agradecer a todos os meus amigos, jogadores, preparadores, principalmente o Carlos Pracidelli (preparador de goleiros), meu grande amigo nesses anos. Fui até onde dava para ir e parei na hora que tinha de parar.
A figura mais simpática do futebol brasileiro recebeu homenagens, ganhou um convite inusitado para participar da procissão a “São Marcos” e chorou ao lembrar do pai, Seu Ladislau, morto em 2008. Foi o único momento em que o ídolo desabou.
– Agora, a frequência com que vou visitar minha mãe em Oriente vai ser maior. Quando meu pai estava doente, tive muito pouco tempo para vê-lo. Não vi meu pai morrer porque estava concentrado para um jogo contra o Santos, mas agora quero aproveitar minha velhinha de 74 anos, que está mais forte do que eu. Quero aproveitar e ficar mais perto das pessoas de quem gosto. Meu pai deve estar muito feliz, porque uma coisa que ele sempre falava é que eu deveria ser um homem honrado.
Marcos terá um descanso merecido depois de quase 20 anos e 530 jogos com a camisa do Palmeiras. A saudade dos gramados, claro, é enorme. Em uma semana de aposentadoria, anunciada na quarta-feira passada pelo gerente de futebol César Sampaio, o agora ex-goleiro passou mais tempo na Academia de Futebol do que em casa. Isso porque discutia uma série de homenagens a receber.
Não estava mais conseguindo, corria na esteira e meu joelho inchava. Fiquei nessa sinuca de bico no ano passado.""
Marcos
A primeira e mais importante medida da diretoria será aposentar a camisa 12, usada por Marcos em suas principais conquistas pelo Verdão. O presidente Arnaldo Tirone já levou a ideia ao departamento jurídico, que vai autorizar a mudança e incluir um artigo em seu estatuto. A única exceção, por enquanto, é para as competições internacionais: a Conmebol exige que os jogadores sejam numerados de 1 a 25, mas o Palmeiras já prepara ofício para enviar à entidade. Emocionado, ele conseguiu brincar com a homenagem.
– Fiquei muito feliz com esse negócio da camisa 12, tomara que dê certo. É até um pouco egoísta querer uma camisa com número só para mim. Mas um dia me perguntaram sobre isso e respondi que fui um dos melhores camisas 12 (risos). Camisa 1 teve um monte melhor do que eu.. De qualquer forma, a maior homenagem foi ter vestido a camisa do Palmeiras.
Além disso, o goleiro ganhará um busto na Arena Palestra e um título de sócio perpétuo no clube. Para fechar, o craque ainda terá um jogo de despedida, ainda sem data definida. O ídolo se segurou para não chorar novamente ao lembrar dos grandes feitos de sua carreira. Inspirado na despedida do atacante Ronaldo, em fevereiro do ano passado, Marcos discorreu sobre as dores no joelho que sentiu no fim de sua carreira. No fim, concluiu que tudo valeu a pena.
- Concordo com o Ronaldo quando ele fala sobre o corpo. A gente usa muito o nosso corpo, e uma hora ele vai cobrar o preço, senão seríamos eternos. Mas vendo todas essas homenagens, parece até que morri. Caramba, ainda estou vivo e já me mataram! Mas é como se eu tivesse morrido mesmo, você chega em casa e é como se tivesse perdido um ente querido: você vê a roupa de concentração arrumada, as chuteiras, as luvas... Morri! O Marcos marido da Sônia e pai da Anna Júlia ainda está aí, mas o goleiro do Palmeiras morreu. Estou anunciando minha aposentadoria há três anos, usei o ano passado inteiro para me preparar e tentar sentir pouca falta do futebol.
Torcedor se veste de padre na despedidad de Marcos
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
A bancada preparada para a entrevista contou com a miniatura do “São Marcos”, lançada no ano passado e sucesso de vendas na loja oficial do Palmeiras. Outra ação promocional com o goleiro será no próximo dia 18, quando o goleiro será o guia de uma visita monitorada de dez torcedores às obras da Arena Palestra, ao lado do ex-jogador Ademir da Guia. Depois disso, Marcos terá dois meses de férias e, no retorno, assumirá uma função administrativa no clube – que pode ser na diretoria ou na comissão técnica.
- Não estava mais conseguindo, corria na esteira e meu joelho inchava. Fiquei nessa sinuca de bico no ano passado, mas consegui jogar umas 30 partidas no sacrifício, tomando muito remédio e fazendo várias punções no joelho para tirar o líquido acumulado. Aí vi que estava na hora, o corpo estava pedindo arrego. O Palmeiras tem grandes goleiros querendo jogar, e sabia que daqui para a frente só ficaria me arrastando. Agora, quero ajudar de outra forma – explicou Marcos.
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