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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Confusão no céu


Vai tocando essa prosa
Nessa linha de cordel
Vô te dá uma prova
Que essa prosa veio do céu

São Benedito escreveu
Com a pena de São joão
Quase que o pau comeu
Quase que deu confusão

São Pedro veio apartar
Antes que o pior acontecesse
São Benedito ia apanhar
Ia levar um cacete

A pena era de ouro
São João ganhou de Nossa Senhora
Pra ele era o maior tesouro
Com ela que ele escrevia suas prosa

São Benedito pegou emprestado sem pedir
Foi ai que se deu o mau entendido
São João ficou desesperado
Foi procurar até o santo Expedito

Passou três dias, uma semana
Ninguém achou a tal da pena
São João tava furioso
Não queria nem mais fazer fogueira

Jesus Cristo apareceu
E reuniu todos os santos
Quem pegou a pena do João?
Quem pegou levanta a mão

São Jorge montado no cavalo
Aponto com a lança
Olha ali o Benedito
Tá chorando que nem uma criança

Jesus Cristo então perguntou
Foi tu Benedito?
Que pegou
Sim, fui eu meu senhor

Só peguei emprestado um pouquinho
Achei que não ia ter problema
Só queria escrever uns verso
Só queria fazer um poema

Pra entregar pra Nossa Senhora
Dar pra ela de presente
Ela é tão bondosa
Queria deixar ela contente

Cuida de todo mundo na terra
Não tem tempo pra descansar
Só queria agradar ela
Só queria lhe presentear


Com uns verso bem bonito
Numas linha de cordel
Mas João ficou enfurecido
Óia a confusão que deu no céu

João meio sem jeito
Foi logo pedindo desculpa
Desculpa Benedito
Foi tudo minha culpa

Tô nervoso porque meu dia tá chegando
Ainda não fiz nem um cordel
Meus devotos já tão me chamando
Cumé que eu vou descer aqui do céu

Não te preocupa João
Eu posso te ajudar
Já terminei o poema de Nossa Senhora
Só me falta declama

Jesus Cristo então disse:
Bom! Tá tudo resolvido
Agora vamos voltar pro trabalho
Temos um monte de serviço

Vem cá Benedito
Não sabia que tu gostava de escrever
Toma aqui essa pena
Que eu ganhei quando ainda era nenê

Ganhei de um dos reis magos
Quando nasci lá em Belém
Agora ela é tua
Escrevi pra mim também

Ô, meu senhor
Não precisa nem pedir
Que presente mais bonito
Hoje não vô nem dormir

Amanha bem cedinho
Vou lhe escrever um cordel
Agora vou ajudar João
Á iluminar esse céu

O dia dele tá chegando
A festança vai começar
Lá em baixo já tá todo mundo festejando
Esperando nóis chega......................Sandro Kretus

RUTH GUIMARÃES,A FADA DA LITERATURA




O Vale do Paraíba celebra insuficientemente os seus representantes da literatura. Com algumas exceções, como a inovadora disciplina de Literatura Valeparaibana, criada pelo professor José Luiz Pasin, em Guaratinguetá, e como as honestas iniciativas da Fundação Cultural Cassiano Ricardo de São José dos Campos, os alunos do Vale do Paraíba pouco sabem dos seus escritores.
O justo destaque dado a Monteiro Lobato deixa a impressão injusta de que o taubateano foi o único escritor do Vale do Paraíba. Merecem pouco espaço, até da imprensa regional, o lorenense Péricles Eugênio da Silva Ramos, o joseense Cassiano Ricardo e os cachoeirenses Valdomiro Silveira e Ruth Guimarães.
E é de Ruth que quero falar. A fada da literatura. Quem disse isto foi Guimarães Rosa, em dedicatória que fez a ela, num exemplar de "Corpo de Baile", quando os dois eram mocinhos, ambos escritores iniciantes, e repartiam uma noitada de autógrafos com Lygia Fagundes Telles e Amadeu Amaral. A dedicatória é assim: "A Ruth Guimarães, minha irmã, parenta minha, que escreve como uma fada escreveria."
Por essa época, Ruth era muito moça, muito pobre, muito magra, e muito míope, como ela mesma se definia. Trabalhava em dois empregos para criar quatro irmãos menores: datilógrafa à tarde, revisora da Editora Cultrix à noite. De manhã cursava Letras Clássicas na USP. Hoje, aposentada de 35 anos de aulas de português, grego e latim, não abandonou a máquina de escrever. Produz crônicas semanais para o jornal ValeParaibano, traduz obras do francês e do latim. Escreve duas horas por dia, como mandou o seu mestre Mário de Andrade, com quem aprendeu folclore, e sob cuja orientação escreveu "Filhos do Medo", uma pesquisa sobre o diabo na mitologia valeparaibana.
Ruth nasceu em junho, "junho das noites claras, de céu nítido", na minha Cachoeira Paulista, no Santo Antonio de 1920.
"Eu quisera escrever em tons suaves, em meios tons que sugerissem preces." É trecho de um de seus poemas, ainda inéditos.
Conhecia-a quando eu não passava dos 13 anos, e ia à sua chácara, plantada à beira do Rio Paraíba, buscar inspiração na sua sabedoria. Quantos textos não levei para ela avaliar e criticar. Era e é severa. Rabisca, em nome da velha amizade, textos meus, até hoje. E cada traço só faz melhorar o escrito.
Em um de seus livros ("Contos de cidadezinha"), escreveu: "Viu as mãos ávidas de Teresa desfazerem o embrulho, viu o porta-jóias de porcelana azul surgir à luz com alguma coisa de deliqüescente e maculado. Nunca havia notado aquilo que somente as mãos trementes da mulher acusavam. Ah! As mãos de Teresa." Fala, nesse conto, das mãos de Teresa, mas são as suas que não deixam de produzir páginas e páginas de bela literatura.
Como esta, no romance "Água Funda": "A gente passa nesta vida, como canoa em água funda. Passa. A água bole um pouco. E depois não fica mais nada. E quando alguém mexe com varejão no lodo e turva a correnteza, isso também não tem importância. Água vem, água vai, fica tudo no mesmo outra vez."
Ou, como esta, no conto "Francisco de Angola": "Depois, os dois trabalharam por mais três. E cinco por mais três. E oito por mais cinco, e todos por todos, até que toda a tribo foi alforriada. Livres! Que língua, que pena, que pincel, poderá dar uma idéia de quanto ressoa essa palavra no coração dos escravos?"
Mas também escreve para crianças. Tem um lindo compêndio chamado "Lendas e Fábulas do Brasil", com uma linguagem gostosa e cristalina.
Ruth Guimarães está lançando mais um livro, no final deste mês de setembro. Mais um, que vai somar 52 publicados. Este "Calidoscópio" é um monumental tratado sobre Pedro Malasartes, o pícaro, o malandro, o nosso herói folclórico sem nenhum caráter. Um trabalho de fôlego que qualquer faculdade de antropologia e de sociologia de primeira linha deveria adotar.

Minha recomendação é esta: leiam Ruth Guimarães, conheçam Ruth Guimarães, ouçam Ruth Guimarães. Ela já contou - e ainda tem muito a contar - sobre o Vale do Paraíba, suas cidades e tipicidades. Sua literatura é nítida, como as noites de junho em Cachoeira Paulista. E ela é uma fada. Uma fada que nestas breves linhas eu quero homenagear.Gabriel Chalita

CORDEL DE NOVELAS




Belíssima Despedida de solteiro
A próxima vítima O rei do gado
O profeta Roque santeiro
Sassaricando O bem amado

Cabocla Da cor do pecado
A favorita Estrela guia
O astro Cordel encantado
A padroeira Eterna magia

Alma gêmea As três Marias
A sucessora Vereda tropical
Mulheres de areia Maria Maria
Selva de pedra Lua de cristal

Olho no olho Pecado capital
O amor está no ar
Salomé Fera radical
Escrava Isaura Livre para voar

Aquele beijo Toma lá da cá
Carinhoso Sabor da paixão
Corpo a corpo Direito de amar
Final feliz Explode coração

Pedra sobre pedra O casarão
Terra nostra O mapa da mina
Dancin days A próxima atração
Cambalacho Negócio da China

Feijão maravilha Gina
A gata comeu Marron glacê
Anjo mau gente fina
Tiêta Voltei pra você

Roda de fogo Bambolê
Laços de família Esplendor
Começar de novo Renascer
Amor eterno amor

Mandala Vila Madalena
Torre de babel Escalada
Deus nos acuda Helena
Minha doce namorada

Eu prometo A viagem
Viver a vida Um sonho a mais
Vida nova Irmãos coragem
A sombra dos laranjais

América Pátria minha
Paraíso Tropicaliente
Gabriela a Moreninha
Por amor A vida da gente

Chega mais cama de gato
Beleza pura felicidade
Mico preto Bicho do mato
O dono do mundo celebridade

Um anjo que caiu do céu
Fina estampa sete pecados
Dona Xepa Barriga de aluguel
De corpo e alma Coração alado

Baila comigo Estúpido cupido
O amor é nosso Passione
O noviço O homem proibido
Tempos modernos O clone

Quatro por quatro Locomotivas
Louco amor Pecado rasgado
Como uma onda Água viva
Sol de verão corpo dourado

Sinhá moça Meu bem querer
Perigosas peruas Vira lata
Senhora do destino Quem é você
Zazá Rainha da sucata

Fogo sobre terra Bang bang
Porto dos milagres Araguaia
Jogo da vida Pacto de sangue
Era uma vez Saramandaia

De quina pra lua Brilhante
Marina Meu bem meu mal
Pai herói Coração de estudante
Cubanacan Paraíso tropical

Sinhazinha flô Desejo proibido
O primeiro amor Hipertensão
Partido alto Sétimo sentido
Vale tudo insensato coração

O outro Anjo de mim
Morde e assopra Padre Tião
Pé na jaca terras do sem fim
Meu pedacinho de chão

O cravo e a Rosa Duas vidas
Te contei Que Rei sou eu
O semiDeus fera ferida
As três irmãs Sonho meu.

Guibson Medeiros

Depois do tapa na bunda

ninguém nunca me avisou
por pena nem por amor
que da vida eu mereceria
didático espancamento
ensino em forma de dor.

Na dor do primeiro ar
por pena ou por amor
ninguém pôde me falar
que pela vida afora
doía pra respirar.
Asma, ronco e suspiro
é nisso que se resume
minha função pulmonar.

Por pena ou por amor
esqueceram de me contar
que quando a dor vai embora
tá doidinha pra voltar.

Por pena ou por amor
deixaram de me dizer
quando me consolaram
do grito que me assustou
que a partir daquela hora
comigo gritariam só
para domesticar melhor.

No primeiro chifre que tive
por amor ou por dó
disseram pra relaxar
que a culpa era da vadia
eu tinha que me aprumar.
Depois, a boca pequena,
puseram-se a me insultar:
- Bem feito praquele corno,
merece o que a vida dá!

Quando numa confusão
acabei levando tiro
correram pra me dizer
por pena ou por amor:
- Coragem, tu vai viver!
mas quando recuperei
gritaram já corrigido:
-safado, tu inda tá vivo?

Por pena ou por amor,
falaram do paraíso
que muito me interessou
mas eu nunca me esqueço
que por amor ou por pena
muita gente me enganou.

Por mais uma gentileza
ninguém me revelou
mas eu cheguei na certeza:
nasci sem saber pra quê,
vivi sem saber pra quem,
ninguém me segura aqui.
E como eu tenho por sina
doer de que jeito for
não ligo mais pra essa vida
ao partir, parto sem pena
ao partir, parto sem dor



Fonte: Crônica do Dia

PARTO DO CORDEL SEM DOR

(Rabiscos em papel de pão, encontrados nos trapos do homem suicidado na Avenida São João, ao sol das duas da tarde, debaixo de um caminhão.)

Depois do tapa na bunda
ninguém nunca me avisou
por pena nem por amor
que da vida eu mereceria
didático espancamento
ensino em forma de dor.

Na dor do primeiro ar
por pena ou por amor
ninguém pôde me falar
que pela vida afora
doía pra respirar.
Asma, ronco e suspiro
é nisso que se resume
minha função pulmonar.

Por pena ou por amor
esqueceram de me contar
que quando a dor vai embora
tá doidinha pra voltar.

Por pena ou por amor
deixaram de me dizer
quando me consolaram
do grito que me assustou
que a partir daquela hora
comigo gritariam só
para domesticar melhor.

No primeiro chifre que tive
por amor ou por dó
disseram pra relaxar
que a culpa era da vadia
eu tinha que me aprumar.
Depois, a boca pequena,
puseram-se a me insultar:
- Bem feito praquele corno,
merece o que a vida dá!

Quando numa confusão
acabei levando tiro
correram pra me dizer
por pena ou por amor:
- Coragem, tu vai viver!
mas quando recuperei
gritaram já corrigido:
-safado, tu inda tá vivo?

Por pena ou por amor,
falaram do paraíso
que muito me interessou
mas eu nunca me esqueço
que por amor ou por pena
muita gente me enganou.

Por mais uma gentileza
ninguém me revelou
mas eu cheguei na certeza:
nasci sem saber pra quê,
vivi sem saber pra quem,
ninguém me segura aqui.
E como eu tenho por sina
doer de que jeito for
não ligo mais pra essa vida
ao partir, parto sem pena
ao partir, parto sem dor



Fonte: Crônica do Dia

Prazer invulgar

Na literatura dos sentidos
Percorro as tuas linhas
Acaricio teus versos

Cada silaba sorvida serena
- sensual cadência -
Toda estrofe palmeada com zelo

Com a calma dos amantes maduros
- Senhores seguros -
Desnudo tua alma pelas letras

Possuo-te além da matéria
Em comunhão etérea
Derramo-me em ti. 

André Vianna

Cordel do Fogo Encantado

Um rei de berço ministra qualquer civilização. Um rei de fé luta com seu povo. Um rei de terras anda pelo mundo. Um rei de gerações passa sua corôa. E todos são exemplos de amor nesse cordel que chegou ao fim. 

Vou sentir falta da figura shakespeariana de Bel. Dos gritos cômicos de Patácio. Do seu filhinho nidinho, o prefeito mirim. Dos personagens santos, Clara e Francisco de Assis. Do profeta que poderia existir na vida real, principalmente ao leste da África. Desse amor de novela que está bem longe da atualidade.

Cordel Encantado, me encantou como " O Cravo e a Rosa". Porém, mais envolvente. Mais rica em histórias e estórias. Um multipluralidade de contos como muitos de nossa literatura dentro de um contexto e suas civilizações, movidos por fé, união e amor. Chorei e choro com essas cenas. Uma pena serem vistas com tanta ênfase numa novela e não na vida real.

O fim de um vicio televisivo e o final de 4 reinados de amor.

Dani Leão

Poeta

O Poeta é como ave de rapina 
quando trina ateia versos
em rima

O Poeta de cordel do sertão
é uma ave que ao recitar
infinito canta

O Poeta de cordel ressuscita
os imortais faz as noites
entardecerem e o dia de
prosas que só se desfaz
ao pôr do Sol.

Emanuel Carvalho

O mundo é elitizado

Posso pegar três punhado de areia
E assim estatistizar.
Como literatura ao tempo
O homem marca a história
Venera coisa errada
E adora o obscuro.
Há os capitalizadores, os modernizados e os amadoristas
O mundo cresce e não chega a se desenvolver
Logo apodrece;
Em sua ganância
Vai matando como deus
Que assim se ache com todo direito.
E os miseráveis em sua ambiguidade,
Os que não tem dinheiro,
E os que não tem caráter,
Vão registrando suas digitais
No dedal tecnológico da humanidade.
São explosões e terremotos
São maremotos e tsunamis
É o mundo chorando
A sua causa invadida.
O respeito próprio foi esquecido ou apagado
Ou quem sabe assassinado
Pelos quem domina com poder.
E se tenha uma esfera elíptica
Dividida em três partes;
Mas há quem sobreviva
Quem de justo tenha feito
Sua parte crescente
Com pincel transparente
Seu trabalho verdadeiro.
Há quem diga que o mundo não tem jeito
Não retoma mais seu rumo
Na sua marcha crescente
De um mundo elitizado,
Porém progressista.

Clarie Rochester

A Força da Idade

"Para que minha vida me bastasse, precisava dar seu lugar à literatura. Em minha adolescência e minha primeira juventude, minha vocação fora sincera mas vazia; limitava-me a declarar: "Quero ser uma escritora". Tratava-se agora de encontrar o que desejava escrever e ver em que medida o poderia fazer: tratava-se de escrever. Isso me tomou tempo. Eu jurara a mim mesma, outrora, terminar com vinte e dois anos a grande obra em que diria tudo; e tinha já trinta anos quando iniciei o meu primeiro romance publicado, A convidada. Na minha família e entre minhas amigas de infância, murmurava-se que eu não daria nada. Meu pai agastava-se: "Se tem alguma coisa dentro de si, que o ponha para fora". Eu não me impacientava. Tirar do nada e de si mesma um primeiro livro que, custe o que custar, fique em pé, era empresa, bem o sabia, exigente de numerosíssimas experiências, erros, trabalho e tempo, a não ser em virtude de um conjunto excepcional de circunstâncias favoráveis. Escrever é um ofício, dizia-me, que se aprende escrevendo. Assim mesmo dez anos é muito e durante esse período rabisquei muito papel. Não creio que minha inexperiência baste para explicar um malogro tão perseverante. Não era muito mais esperta quando iniciei A convidada. Cumpre admitir que encontrei então "um assunto" quando antes nada tinha a dizer? Mas há sempre o mundo em derredor; que significa esse nada? Em que circunstâncias, por que, como as coisas se revelam como devendo ser ditas?

A literatura aparece quando alguma coisa na vida se desregra; para escrever - bem o mostrou Blanchot no paradoxo de Aytré - a primeira condição está em que a realidade deixe de ser natural; somente então a gente é capaz de vê-la e de mostrá-la."

Simone de Beuvoir