Artigo do jornalista Ricardo Noblat publicado hoje no jornal O Globo e também em seu prestigiado blog:
Conselhos que dou de graça ao recém-eleito presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Nada de voar em avião de carreira – a não ser para o exterior. E sob a condição de ser o último passageiro a embarcar na primeira classe, discretamente. Assim evitará o risco de ser ofendido pelos demais passageiros da econômica.
Pelo mesmo motivo, nada de frequentar shoppings. Em Maceió, talvez seja possível.
Cuidado redobrado quando estiver em Brasília. Aqui todo mundo conhece todo mundo. Nem mesmo disfarçado dá para bater perna à beira do Lago Paranoá.
Matricular-se em academias? Nem pensar. Lembre-se: Brasília sediou as maiores manifestações pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor em 1992. E do ano passado para cá, passeatas e comícios contra a corrupção.
De uma vez por todas, jamais esqueça: sua eleição foi uma bofetada forte na cara dos brasileiros. Daquelas que estalam.
A maioria deles pode nem ter sentido – mas foi. E a minoria que sentiu não deve ser subestimada. Ela é conhecida pelo nome de opinião pública. Quando desperta, é um alvoroço. A imprensa está sempre atenta a seus humores e costuma refletir o que ela pensa.
Não fale tanto em “transparência” como fez no seu discurso de posse.
“Vou administrar com transparência”. Ou então “vou criar a Secretaria da Transparência”.
Parece deboche. Galhofa. Zombaria.
Quem o senhor pensa que é para falar em “transparência”? Depois de ter feito o que fez no passado recente, que idiota acreditará em uma promessa dessa natureza?
Em maio de 2007, a imprensa descobriu que o lobista de uma empreiteira pagava a pensão e o aluguel do apartamento onde morava a jornalista Mônica Veloso, mãe de uma filha sua fora do casamento. O senhor alegou que tinha gado o bastante para justificar suas despesas. Apresentou farta documentação para comprovar o que dizia. Jurou por todos os santos ser inocente.
Mesmo assim o Conselho de Ética do Senado recomendou a cassação do seu mandato. E no dia 12 de setembro, o senhor escapou por pouco de ser cassado.
Dos 81 senadores, 40 votaram a seu favor, é verdade, mas 35 votaram contra e seis se abstiveram. Se os seis, todos eles do PT, tivessem acompanhado os 35, o senhor perderia o mandato e os direitos políticos por dez anos.
Oriente seus parceiros para não insistirem com a tese de que sua inocência foi reconhecida duas vezes pelo Senado – em setembro e depois em dezembro daquele ano quando novamente o senhor foi julgado.
O segundo julgamento não passou de um embuste. Absolveram-no por larga margem de voto. Em troca, o senhor renunciou ao resto do mandato de presidente do Senado.
Por que uma pessoa duas vezes inocentada renuncia ao que tanto desejaria conservar? Para ser deixado em paz, possivelmente. Para enterrar de vez o assunto.
Não deu certo.
A Polícia Federal investigou a fundo o rei do gado de Alagoas. E o Procurador-Geral da República acabou lhe denunciando por desvio de dinheiro público, falsidade ideológica e uso de documentos falsos.
“Em síntese, apurou-se que Renan Calheiros não possuía recursos disponíveis para custear os pagamentos feitos a Mônica Veloso (mãe da filha de Renan) no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, e que inseriu e fez inserir em documentos públicos e particulares informações diversas das que deveriam ser escritas sobre seus ganhos com atividade rural, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, sua capacidade financeira”, disse Gurgel na denúncia.
Agradeça a Deus Todo Poderoso o fato de a denúncia ter caído no colo do afável ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, que não terá pressa alguma em relatá-la.
Mas é recomendável proceder de forma a evitar a eclosão de novos escândalos – afinal, de 2001 para cá, eles derrubaram três presidentes do Senado, inclusive o senhor.
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