Hoje, enquanto pedalava com um amigo na Av.Paulista, me deparei com uma cena bem diferente: um morador de rua que, seguido por um cachorro, empurrava um carrinho cheio de filhotinhos que, por onde passava, despertava suspiros e atraia olhares curiosos para os pequenos animaizinhos que brincavam entre si.
Me aproximei do garoto que preferiu não falar seu nome e tive uma breve conversa com ele. O rapaz não se mostrou muito aberto e queria sair logo dali. Logo percebi o motivo. Os mesmos 'suspiros e olhares' que ele atraia, logo se aproximaram e tornaram-se ofertas de ajuda para cuidar dos animais assim como expressões invazivas e desmedidas de puro preconceito.
Obviamente, o rapaz não estava se sentindo nem um pouco à vontade naquela situação. Na verdade, estava sendo julgando por um bando de domingueiros que sequer o conheciam e, mesmo assim, ofereciam ajuda aos seus animaizinhos. Constatei, ali, uma triste realidade.
O que me tocou e me levou para perto daquele morador de rua, não foi seu aspecto magro ou o evidente esforço que fazia para empurrar aquele carrinho cheio de filhotes debaixo de sol forte, em plena Av.Paulista. O que, de fato, me sensibilizou e também mobilizou todos aqueles que passaram a literalmente cercá-lo, foram os 'pobres' animaizinhos que, segundo nosso puro preconceito, se encontravam em 'apuros' naquela 'triste' situação.
Algumas pessoas perguntaram se os animais estavam à venda e o garoto respondia que não, que os animais ainda estavam mamando e que, mesmo se não estivessem, não pretendia vender nenhum deles. Uma senhora chegou a dizer que aquilo era uma "judiação", e o garoto, já exasperado, questionou a mesma argumentando que judiação seria permitir que os filhotes fossem retirados da mãe.
Muito sem graça e em meio a dezenas de domingueiros, o garoto pediu para se retirar e se despediu com um tímido sorriso. Agradeci pela atenção e também me retirei daquele cerco que havia se formado em nossa volta. Ainda chocado, voltei a pedalar questionando meus valores e os valores de todos que se aproximaram daquele simples 'exemplo' de existência que acabou cruzando nossas vidas nesta tarde de domingo.
Se soubéssemos como nos relacionar e tivéssemos mais certezas sobre nossos valores, na certa, não teríamos nos aproximado daquele rapaz em função dos animais. Teríamos, talvez, tentado ajudar e entender sua difícil realidade, sem ácidos e preconceituosos julgamentos. Teríamos, enfim, sido mais humanos e menos animalescos.
No fundo, ainda temos dificuldade de acreditar que as pessoas tenham princípios e valores, mesmo sem ter muito acesso aos "bens de consumo" que tanto enaltecemos, numa falsa associação que teimamos em cultivar.
Pois é. Falta sensibilidade e sobra preconceito em muitas das "principais" calçadas do nosso país.
Que esta experiência sirva pra reavaliarmos nossas condutas à luz de nossos próprios valores. Como tão bem fez o simples rapaz ao defender seus bichinhos, afastando-se de nós.
— em Avenida Paulista.
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