O tempo na ativa, os projetos monumentais. A influência na arte e na arquitetura moderna. O conjunto de uma obra que escreveu o nome de Oscar Niemeyer na história.
“Eu lembro que, quando eu era menino, começava a desenhar com o dedo no ar e minha mãe perguntava: ‘O que você está fazendo?’ Eu dizia: ‘estou desenhando”, disse o arquiteto.
Oscar Niemeyer era apaixonado pelas linhas sinuosas das montanhas e dos rios. Pelas ondas do mar, pela sensualidade dos seios e dos quadris das mulheres. Cedo descobriu que, se a reta era o caminho mais curto entre dois pontos, a curva era sempre o mais belo. Era a curva que fazia o concreto buscar o infinito.
“Minha arquitetura é feita com a preocupação da beleza. Ser uma coisa bonita, sem lógica”, afirmou.
Niemeyer começava a dar forma a um Brasil mais humano e mais moderno, que casava perfeitamente com a imagem desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Oscar Niemeyer fez prédio, fez palácio, escola, igreja, uma cidade inteira. E veio Brasília.
“Quando eu chego perto de Brasília, parece um milagre. Fazer uma cidade em quatro anos não é fácil”, declarou.
No meio do cerrado, a cidade de asas de Lúcio Costa se completava na ousadia dos espaços ambientados por Oscar Niemeyer. O Itamaraty, o Alvorada, a Praça dos Três Poderes. O arquiteto fez fama, ganhou o mundo. Niemeyer foi parar na Itália, na França, na Argélia, na ONU. No Brasil, foi vigiado, perseguido, atormentado pela ditadura militar.
Era comunista. Dinheiro? Usava para ajudar os amigos. Quando descobriu que o líder comunista Luis Carlos Prestes não tinha onde morar, comprou um apartamento para ele. Niemeyer lutava cada dia para mudar o mundo.
“O que eu acho importante é a vida. São os amigos, a família. É se sentir bem consigo mesmo. É levar essa vida de choros e risos com tranquilidade”, disse.
O escritório de Copacabana era o lugar de pensar, de criar, de inventar novas formas, como as do museu de arte contemporânea: um disco de voador no meio da Baía de Guanabara, em Niterói, no Rio de Janeiro.
O mestre das curvas mostrou também que era senhor do tempo. Aos 99 anos se casou com Vera, a companheira de uma vida de trabalho. Quando completou 100 anos fez festa na casa que construiu para morar nos anos 50, no alto da Estrada das Canoas, no Rio de Janeiro. Aos 101 anos, surpreendeu a todos: uma vez por semana, ia pessoalmente supervisionar a obra no Caminho Niemeyer, em Niterói.
Oscar Niemeyer recebeu todos os prêmios, todos os títulos, as maiores homenagens. Mas não conseguia descobrir a razão de tanta reverência. Dizia apenas: “Trabalhei muito. Fiz meu trabalho na prancheta”. Na prancheta de Niemeyer, esse país de curvas exuberantes encontrava todos os dias sua mais que perfeita tradução.
“Os mais inteligentes se queixam do mundo. Acho que o mundo tem prazeres, tem alegrias. Mas a razão de estarmos aqui é muito precária. Mas ninguém quer ir embora”, disse.