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sábado, 11 de agosto de 2012
A descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)
Oswald de Andrade
Canto de regresso à pátria
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)
Oswaldo de Andrade
Poeta
Sou barroco na dualidade
como sou também
do pau-brasil
de Oswald de Andrade.
Tenho as várias faces
de Gregório de Mattos,
porém, sou um Gonzaga,
mestre dos arcades.
Talvez até um
ultra-romântico azedo,
como um tal,
Álvares de Azevedo.
Ou quem sabe um realista,
ou vai saber,
um modernista.
(apostam alguns
em naturalista)
Assim como Adolfo Caminha,
eu também caminho
nos sons e sentidos
e que, como eu,
ninguém ousa
ser Augusto dos Anjos
ou Cruz e Sousa.
Detenho em mim
o Tropicalismo,
sendo um marginal
de marca maior
no meu contemporâneo
pós-modernismo.
Em verdade
na verdade
de verdade,
não sou Oswald
Drummond
ou Mário
de Andrade.
Sou poeta.
Do passado, presente, futuro,
simples profeta.
Lucian Rodrigues Cardoso
Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
Oswald de Andrade
Um pouco sobre Mario de Andrade
Mário de Andrade |
Mario de Andrade é considerado um dos maiores escritores brasileiros, ele inovou o estilo da literatura durante o período modernista e foi autor de belíssimas obras. Além de poeta e romancista, Mario também desempenhava a função de professor universitário. Ele teve importante participação na Semana de Arte Moderna de 1922, ao lado de nomes como Manuel Bandeiras, Carlos Drummond e Tarsila do Amaral.
A galeria de poemas de Mario de Andrade é magnífica, capaz de estimular estudos aprofundados até hoje. Os textos valorizam as principais características do modernismo, fazendo denúncias sociais e estimulando a reflexão do leitor a respeito de vários assuntos.
Um dos romances mais conhecidos de Mario de Andrade é Macunaíma, o livro tem uma linguagem densa que mistura a cultura popular com erotismo.
Poemas da amiga
A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.
Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade…
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade…
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
Mario de Andrade
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
Mário de Andrade
Moça Linda Bem Tratada
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.
Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...
Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta do pobre arromba:
Uma bomba.
Mario de Andrade
Cantam Passaros Exoticos no Teu Pubis
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Como espelhar graficamente
uma melodia de sonho?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Como definir a breve vertigem
nos momentos de lucidez?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Como descrever o frémito singular
com as palavras banais de todos os dias?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Cantam. Ou imagino-os.
Oiço-os. Ou adivinho-os.
Quantas decepções cabem no abismo
que separa A Sensação de A Palavra?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Para nós ambos, no vórtice do delírio.
Como ouvi-los sem ser a deliberar?
E como delirar sem os ouvir?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
O êxtase está além do abraço desesperado
além dos copos do peito além da sanguessuga
labiar além das ancas convulsivas além
dos rostos de mármore esbraseados
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
E só ouvindo-os nos amamos como sonhamos.
Como espelhar graficamente
uma melodia de sonho?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Como definir a breve vertigem
nos momentos de lucidez?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Como descrever o frémito singular
com as palavras banais de todos os dias?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Cantam. Ou imagino-os.
Oiço-os. Ou adivinho-os.
Quantas decepções cabem no abismo
que separa A Sensação de A Palavra?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
Para nós ambos, no vórtice do delírio.
Como ouvi-los sem ser a deliberar?
E como delirar sem os ouvir?
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
O êxtase está além do abraço desesperado
além dos copos do peito além da sanguessuga
labiar além das ancas convulsivas além
dos rostos de mármore esbraseados
Cantam pássaros exóticos no teu púbis.
E só ouvindo-os nos amamos como sonhamos.
Mário Quintana
Olha eu aqui gente
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