Assim que foi confirmada a ascendência argelina e as alegadas ligações à Al-Qaeda de Mohamed Merah, o principal suspeito de ter cometido os ataques que em nove dias vitimaram sete pessoas na região de Toulouse, o receio instalou-se na comunidade muçulmana em França: em causa estavam as eventuais repercussões sociais que pudessem brotar no pais, após o devaneio terrorista de um indivíduo.
Ontem, quarta-feira, quando as autoridades ainda lidavam com a barricada de Merah na sua residência, os principais líderes e representantes das instituições muçulmanas em França começaram a lançar os seus apelos, alguns deles compilados pelo Le Monde.
Na ressaca de Toulouse, Sarkozy prometeu 'punir com a lei' o terrorismo em França.
Dalil Boubakeur, reitor da mesquita de Paris, começou por falar na «amálgama» que hoje Nicolas Sarkozy também frisou, ao explicar que «não se deve misturar a religião muçulmana, 99% pacífica, com estas mini-franjas de pessoas decididas a fazer atrocidades».
Comum a todas as declarações foi o esforço por se distanciarem dos actos alegadamente cometidos pelo suspeito de Toulouse.
Mohammed Moussaoui, presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), realçou que «este indivíduo [Mohamed Merah] não pode em caso nenhum justificar os seus actos com a religião muçulmana».
Em comunicado, o Colectivo contra a Islamofobia em França (CCIF) lembrou o massacre que Anders Breivik cometeu na Noruega – matou 77 pessoas num ataque que, como explicou, visou «traidores» que apoiavam «a colonização islâmica» -, para apelar a uma «reflexão» que «mude o clima de ódio que conduziu ao drama» de Toulouse.
Os receios estenderam-se a Driss El-Kherchi, presidente da Associação do Trabalhadores Migrantes em França (ATMF), ao alertar para o clima de «culpabilização», lembrando que existe «a preocupação de que esta é uma oportunidade para alguns partidos» de «atacarem» os muçulmanos presentes no país.
E recorde-se que, durante a sua campanha de recandidatura à presidência do país, Nicolas Sarkozy começara já a adoptar um discurso virado à direita, tendo inclusivamente dito, durante um debate televisivo, que a França tinha «demasiados estrangeiros» e que pretendia «reduzir para metade» o número de imigrantes que anualmente entram no país.
Estima-se que em França existam cerca de cinco milhões de pessoas de origem muçulmana.
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