Perguntas:
1- O que te levou a gostar de literatura e querer escrever?
Resposta: Lembro que, ainda bem pequena, minha mãe me presenteava com livros infantis. Eu fui criança tímida, introspectiva que gostava de viver envolta em fantasias. Os livros foram tesouros descobertos bem cedo. O colégio que eu frequentava tinha uma grande biblioteca, que eu considerava fascinante. Eu amava a coleção de Monteiro Lobato e a série Vaga-lume. A criação veio no mesmo contexto da fantasia, pela necessidade de expressar meu mundo psíquico, que sempre pareceu não caber em mim.
2- Qual é sua ou suas inspirações para ter escrito seus livros?
Resposta: Sou apaixonada por histórias, lidas e escutadas. Sou Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta, passo os dias a escutar relatos de sofrimento e superação. Quando mais ouço, mais me surpreendo com a potencialidade humana para o bem e o mal, para o jogo de luz e sombras. Assim, me inspiro pela miscelânea do que leio, vejo e escuto.
3- O que os leitores que ainda não leram seus livros podem esperar?
Resposta: Minha escrita é intimista. Uso o ambiente e o período histórico como panos de fundo para os dramas pessoais. Gosto de viajar para dentro da alma humana, para os motivos secretos, o terreno dos segredos vergonhosos e da grandeza. As contradições me agradam.
4- Tem algum personagem de algum livro que você mais gosta? Por quê?
Resposta: É difícil escolher um. Acho que fico com a força terrosa da Blimunda Sete Luas, personagem de José Saramago em “Memorial do Convento”. É comovente o amor sem floreios, intenso e inteiro, que simplesmente existe e é aceito como um poder da natureza. Li esse livro pela primeira vez na adolescência, foi um divisor de águas, inesquecível.
5- O que a literatura significa para você?
Resposta: A Literatura é a arte que permite coautoria. É mágico como personagens tem rostos, corpos, cheiros e vozes produzidos pelo leitor. A fantasia de quem lê é a real finalização da obra. Esse processo é bonito demais! É minha paixão, algo que me dá sentido.
6- Qual é a sensação de lançar seus livros?
Resposta: É parecido com o primeiro dia de aula de um filho querido. Uma mistura de alegria, orgulho, insegurança e, acima de tudo, muito amor.
7- Sobre o Livro Sábado no templo de Afrodite o que te inspirou a escrever?
Resposta: Vivemos o resultado de séculos de um feminino que sangra. Não há dia que, na minha prática profissional, eu não escute histórias de mulheres violentadas, sobrecarregadas, heróicas, medrosas, vingativas, acolhedoras… Todas desejando ser escutadas e encontrar valor e sentido. É um universo inspirador e incrivelmente rico! Nesse livro, eu tento criar, em cada conto, uma peça desse mosaico. Cada história traz uma nuance do feminino, o relato de uma mulher. Gostei de brincar com o ambiente confessional do salão de beleza, lugar onde defesas psíquicas se rebaixam e os relatos despreocupados são surpreendentes! Acredito que todo salão de beleza tem um pouco dessa função de “confessionário lúdico”.
8- O mundo sem literatura seria?
Resposta: Triste e sem cor. Simples assim.
9- Como é ser escritor(a) no Brasil?
Resposta: Um caminho que estou aprendendo a percorrer. A divulgação é um desafio, vale a pena para o autor a participação em antologias e a troca de experiências com outros autores em eventos específicos ou de forma virtual. Escolher uma editora adequada é importante. Há que se pesar a aceitação de novos autores e o respeito pelas obras. Eu optei pela Illuminare.
10- Como é participar dos eventos literários ao lado de outros escritores?
Resposta: São momentos preciosos de contato com quem está na mesma luta e compartilha da mesma paixão. A troca é revigorante e importante. As idas e vindas de um artista servem de estímulo e proteção para outro.