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sábado, 8 de setembro de 2012

O cowboy da Meia-Noite


É quase meia-noite. Apesar do frio, Analisa usa um microvestido preto aberto nas costas, e salto alto e bolsinha com estampa de oncinha. Sai da estação de metrô toda vaporosa, mas sem rebolar muito. Tem gloss nos lábios, e brincos de argola. Mal olha para os lados. Cílios colocados. Peitos balançando esmagados dentro do decote. Daquele jeito. Já passou um pouco do ponto, mas ainda dá um caldo.

Três vagabundos dividindo um garrafão de vinho, sentados na mureta em frente à estação, ao vê-la passar, comentam para ela ouvir:

“Opa, aí sim, hein.”

“Ô lá em casa.”

“Ai se eu te pego, mamãe...”

A este último, olhando por cima do ombro, ela responde assim, a voz rouca de doze horas de cigarros e cerveja gelada demais num churrasco na casa da irmã, do outro lado da cidade: “Filhinho, cê não pega nem resfriado.”

Os amigos começam a rir dele, tirando o maior sarro.

Ele sente que tem que se sair com algo. Sem pensar muito, praticamente grita: “Deixa quieto. Nem quero essa tua largona aí.”

Analisa para de caminhar e responde na lata: “Não é culpa minha se o teu é desse tamanhinho aqui, ó...” Mostra com o dedo polegar e o indicador o tamanhinho do dele.

Os amigos do sujeito gargalham e lhe dão soquinhos nos braços.

“Por que vocês tão rindo? Se juntar o dos três, não fica nem do tamanho desse aqui, ó.” Ela dá o dedo do meio a eles e saí requebrando a bunda que só tem um pouquinho de celulite aqui e ali.

Agora nenhum dos três ri mais. Se cutucam e fazem comentários entre si, olhando em direção a ela.

Pressentindo o perigo, Analisa aperta o passo. Se afasta bem do local onde o grupo está sentado, e, olhando por cima do ombro para ver se não está sendo seguida (até onde ela consegue ver, não está), respira fundo, aliviada. Torna a caminhar em seu próprio ritmo, os saltinhos batendo no chão e ecoando pelas paredes da rua deserta e meio mal iluminada. Ela bebeu demais e não percebe que os três homens estão em seu encalço, esgueirando-se pelas ruas escuras. Esquece completamente do acontecido, e se deixa perder em pensamentos bem diferentes uns do outros, gastando a mesma atenção com cada um deles (os importantes e os insignificantes), daquele jeito das mulheres...

“Será que eu devia ter aceitado a carona daquele amigo da minha irmã? Ele tem dinheiro, e pelo menos eu não teria que ter pegado aquela porra de metrô, com todo mundo olhando para a minha bunda. Hum, mas aquele monte de pelos que ele tinha no peito e nas costas... aquelas correntes de ouro... o cheiro daquela loção de barba... aquele nariz parecido com um morando deformado... um nojo. Falando em nojo, preciso comprar uma tampa de privada nova; a lá de casa está toda manchada. Talvez eu compre uma marrom. Facilita bastante... Ai, amanhã não posso esquecer de passar naquela loja, depois do serviço; está tudo em liquidação!!... Que droga, perdi a novela de hoje! O que será que aconteceu com a amante daquele empresário sexy?... Hum, estou ficando com fome. Acho que ainda tem o frango de ontem na geladeira; acho que ainda está bom... Meu deus, como é que eu ainda posso estar pensando em comida depois de comer tudo aquilo de churrasco? Estou virando uma baleia; até os meus pensamentos são gordos!”

É quando está bem perto do buraco que ela chama de lar, com a cabeça profundamente enfiada na quinta dimensão, que ela é surpreendida pelos três, que a cercam.

“Agora cê não tem mais nenhum comentário espertinho pra fazer, né, sua vagabunda?”, um deles diz.

“Que foi, o gatinho comeu a sua língua?”, pergunta outro, sorrindo.

“Fiquem longe de mim!” Ela gira a bolsa em volta, sem conseguir acertar nenhum dos três. “Eu vou gritar!”

“Vai, é?” Um deles diz, e dá um passo a frente, acertando um direto no meio da cara dela. Outro a prende por trás numa chave de braço; e o terceiro indivíduo, usando sua camiseta enrolada, passa-lhe a mordaça. Arrastam-na para um beco escuro não muito afastado dali, esperando fazer com ela no velho estilo consagrado na Idade das Pedras...

O que os vagabundos não sabem, é que nesse momento, saído de seu primeiro show de sexo ao vivo num cineminha sórdido fedendo a urina e homicídio, passa por lá Diones, cabra macho, vaqueiro e pau pra toda obra, vindo lá da terrinha, para tentar a sorte na cidade grande.

Ele demora menos de um segundo para perceber o que está para acontecer, e tão logo calcula suas chances, saca de um monte de entulho uma telha quebrada, com a qual dá sem dó na cabeça do que segura a garota pelos pés.

Um dos que sobram de pé, sem entender direito o que se passa e quem é aquele cara, reage tarde demais ao gancho que recebe em cheio na orelha. Daí tem o focinho esmigalhado contra o joelho duro feito pedra do vaqueiro.

O terceiro homem, que segurava a garota numa chave de braço, a solta e sai correndo...

Diones corre em seu encalço, e logo dá cabo dele, acertando-lhe uma voadora no meio das costas. O sujeito se estatela contra um carro parado, e desliza até beijar o chão, alguns dentes despencando de sua boca durante a queda.

O vaqueiro ajeita o chapéu e as calças justas, e, dando aquelas alargadas passadas de cowboy que parece que está com uma toco de madeira enfiado no rabo, agacha perto de Analisa.

“Tudo bem? Eles te fizeram alguma coisa?”

“Não...”

“Covardes! Seu nariz está sangrando... toma aqui.” Saca do bolso de trás da calça um lenço com cheiro de água sanitária e bunda.

Analisa não sabia que ainda se faziam desses tipos. Limpa o nariz e agradece seu herói.

“Imagina, que é isso. Qualquer um teria feito o mesmo.”

“Não teria, não.”

“Tem certeza de que está bem?”

“Graças a você, estou.”

Ele ajeita o chapéu e olha para baixo, sorrindo — o que ele acha que é um belo truque —, e arremata: “Assim a senhora me deixa sem graça.”

“Senhorita. Não sou casada.” Ela diz isso olhando bem dentro dos olhos de Diones.

Inconscientemente, ele levanta um pouco a calça apertada. Enfia os dois polegares dentro dos bolsos da frente, na pose clássica “ei, olhe o que eu tenho no meio das pernas”.

Ela, inconscientemente, olha.

Meio que inconscientemente, ele percebe que ela olhou.

“É perigoso para uma mulher tão bonita ficar andando a noite sozinha.”

“É verdade, mas eu não tinha ninguém que me acompanhasse, e oh!...” Ela leva as mãos à boca e aponta para frente.

Diones se vira. O sujeito em quem ele tinha acertado a telha, agora se levanta, sacando de dentro do bolso um canivete com a lâmina um pouco torta para o lado.

Diones sorri para Analisa, levantando bem a sobrancelha esquerda — dava para notar que era algo que ele tinha treinado bastante em frente ao espelho. “Não se preocupe”, diz, e caminha em direção ao vagabundo. “Você não aprende mesmo, né, fi di rapariga?”

“Você me pegou de surpresa”, ele cospe entre os dentes, os olhos injetados de sangue. “Vou te cortar todinho, cowboy viado! Depois vou rasgar gostoso essa piranha aí!”

“Cowboy viado, é? Dá aqui, embaixo do meu queixo.” Ele cruza as mãos por trás das costas e expõe bem a jugular, olhando fixamente nos olhos do homem.

Esse continua de braços abaixados, a mão direita esbranquiçada de tanto apertar o canivete... Então, de surpresa, dá uma investida...

Mas o vaqueiro se esquiva e o pega pelas bolas. Toma seu canivete e atira longe.

“Que é que cê ia fazer com essa porcariazinha aqui, hein, rapaz?”

De pardo, o sujeito passa para amarelo. Não consegue falar, apenas implorar com os olhos para que Diones pare de esmagar seu parque de diversões.

Ele não para até os olhos do sujeito virarem duas bolas brancas cheias de vasinhos vermelhos.

“O corno vai sobreviver”, diz, sorrindo daquele jeito que ele acha que enlouquece as mulheres, caminhando em direção a Analisa. “Acho melhor eu te levar até a porta de casa.”

“É bem perto daqui.”

Caminham em silêncio.

Em frente ao prédio onde ela mora, os dois se beijam. Analisa o convida para subir; ele aceita.

Já no elevador começam a se pegar. Ele desce a calcinha dela e corre os dedos pela sua xoxota e racha da bunda. Ela arranha suas costas.

O cowboy fecha com um chute a porta atrás de si, e carrega a mulher até o sofá. Puxa o vestido por cima de sua cabeça, quase rasgando o negócio, e lhe chupa as tetas e depois a boceta; ela se contorce toda, o arranhando e gemendo alto.

Desafivela o cinto e dá para ela o seu de trinta centímetros.

“Ah, meu deus!” Analisa arregala os olhos e o pega com as mãos. Então coloca dentro da boca até onde consegue, e vai chupando.

“Vai, bota esse trem dentro da boca, assim, todinho...” Empurra a cabeça dela e assiste, lambendo os beiços, como se quisesse ele mesmo chupar seu próprio caralho para ver como é. Tira um pouco e bate com ele no rosto dela; o troço é tão grande e gordo que Analisa sente como se tivesse levando tapas na cara.

“Para! Para, seu idiota!”, ela o repele, cravando as unhas em seu estômago. Mas ele continua, e puxa forte seus cabelos e continua esbofeteando-lhe com o seu caralho que é como se fosse um porrete.

“Tu não tá gostando? Não é assim que tu gosta, potranca?”

“Me solta, seu filho da puta!”

“Tu me chamou de quê?”

“Filho da puta!”

Ah, mas o vaqueiro era burro demais para entender “filho da puta” como um xingamento genérico. Talvez isso se desse pelo fato de que sua mão havia sido mesmo uma ex-puta, e do pior tipo, que é aquele que não cobra e não aborta os filhos.

“Tu vai ver quem é o filho da puta agora!”

Levanta a mulher pelos cabelos, fazendo-lhe ficar de costas. Introduz nela seu membro gigantesco e cheio de protuberâncias, até o talo. Ela começa gritando, tentando lutar, mas logo perde a voz e a força, e limita-se a apenas chorar silenciosamente, mordendo o estofamento do braço do sofá.

Diones não para mesmo quando nota que o estofamento começa a ficar ensopado de sangue. Na verdade, isso o excita mais ainda — assim como igrejas, crucifixos, caranguejo com cerveja e forró brega cantados por caras pançudos de chapéu e calças apertadinhas.

Quando termina, larga dentro dela uma quantidade de porra digna de seu caralho de trinta centímetros. Ela não se meche, apenas continua de olhos abertos, fitando para o nada.

“Onde fica o banheiro?”

Ela não responde.

Ele caminha pelo corredor depois da sala e abre a primeira porta, encontrando-o. Abre a porta do armário do espelho. Enquanto mija, examina seu reflexo; dá umas levantadas de sobrancelha, testando seu velho olhar. Sai, veste sua camisa e abotoa as calças. Coloca o chapéu, o ajeitando um pouco acima do olho direito. Analisa continua imóvel de olhos abertos.

“A gente se vê por aí”, ele despede-se.

Abre a porta, sai, fecha a porta. Tem a sensação de dever cumprido. Se olha no alumínio vagabundo e amassado da porta do elevador, bota ambos os polegares dentro da calça e saca um revólver feito de seu indicador em riste e seu polegar um pouco flexionado para trás, aquela idiotice de sempre.

“Meu nome é Diones. Kid Diones Silva dos Santos”, diz para o reflexo, fazendo mira. Dispara. Sopra a fumaça imaginária do dedo. Ajeita o chapéu. “O gatilho mais rápido do norte.”

Cruza o corredor até a porta de entrada do prédio, imaginando a si mesmo saindo de dentro de um saloon enfumaçado, caminhando como se tivesse uma berinjela enfiada no rabo.

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