Eles esperavam enfrentar alguma resistência, porém, tudo
estava tranquilo. O comboio alcançara a bifurcação.
– Sargento Franz.
– Sim, Herr Major – cumprimentou-o com a saudação e a
regular batida das botas.
– Pegue seus homens, e siga até a vila Le Bonheur[1].
Conforme determinado, você é o responsável
pela região.
– Sim, Herr Major – estava em rígida posição de sentido.
– Espero que não me desaponte. Aguardo os relatórios,
todas as segundas. Fui claro?
– Sim, Herr Major.
Era o mês de Junho de 1940. O comboio seguiu pela rodovia
principal.
Depois de vinte e poucos minutos, de estrada de terra,
chegaram a Le Bonheur.
O lugar fazia jus ao nome. A sensação de tranquilidade,
na vila, contrastava com o clima de guerra.
Pararam na praça. O cabo Joseph, aproximou-se de Franz,
cochichando:
– Sim, Herr Major, Sim,
Herr Major. Você está parecendo um
fanático nazista – ambos riram.
Foram recebidos pela autoridade local. Em breve reunião,
tudo fora acertado para uma convivência pacífica.
Franz deixara claro que seus homens, de forma alguma
incomodariam os moradores. Em troca, pediu que obedecessem as leis impostas,
para as regiões ocupadas. Foi convidado para jantar,
Junto de Joseph, conheceu a família de Ludovic, o
subprefeito. Émilie, a esposa, acompanhada da filha Ève, era a anfitriã
perfeita. O jovem, Jérémy, completava o grupo.
Três meses se passara, sem nada que mudasse a rotina do
local. Enviava os relatórios com pontualidade. Não podia ser mais perfeito.
– Espero que nunca tenhamos a presença do Major Wolfgang
aqui –confessou ao amigo, Joseph. – Ele pune os habitantes da cidade, quase
todos os dias. Soube que fuzilou vinte pessoas pelo roubo de um pão.
A amizade com o Jérémy, aumentara. Embora tivesse só
vinte e quatro anos, Franz o aconselhava, tratando-o como o irmão mais novo.
Discorria sobre táticas militares e também mulheres.
As idas e vindas à residência, tornara-se constantes. Ele
percebera que Ève correspondia aos seus anseios.
Tudo aconteceu em um dia ensolarado. Passeavam de mãos
dadas, à beira de uma riacho. O ambiente, a proximidade, e, a delicadeza dos
sentimentos que nutriam, somados à urgência da paixão, fora determinante.
Amaram-se, apaixonados.
À noite, com toda a família reunida, Franz a pediu em
noivado. Ele era o homem mais feliz do mundo.
A vida seguia seu curso. A vila Le Bonheur adotara o
grupamento militar.
Franz decidira ensinar a Jérémy, o manejo de uma arma.
Para seu espanto, reconheceu um exímio atirador.
– Eu pratico desde criança, meu pai fez questão que eu
aprendesse.
– Então amanhã, faremos uma disputa.
– Não vejo a hora – riram.
Franz jantara na residência de Ève. Mostrava a Ludovic,
as armas que usariam na disputa, quando tiros foram ouvidos, na praça central.
Apressados, deixaram a casa.
Um grupo de fugitivos, vindos da cidade, fora perseguido
pelo major. Após breve escaramuça, renderam-se.
Wolfgang dirigiu-se a Franz:
– Parece que eu trouxe um pouco de diversão para este
lugar. Concorda comigo sargento?
– Sim, Herr Major.
– Agrupe-os, para
serem fuzilados.
Franz não acreditava na ordem recebida. O rosto
tornara-se tenso.
Com o costumeiro ar arrogante, Wolfgang perguntou:
– Quem é o subprefeito?
Ludovic aproximou-se:
– Sou eu, Herr Major.
Sem dar atenção à resposta, falou, em voz alta.
– Que fique claro. Quem manda aqui é o partido nazista.
Sacou a pistola Luger, atirando na cabeça de Ludovic.
– Assim vocês aprendem melhor.
Ao ver o pai caído. Jérémy, trêmulo, de posse da arma que
usaria na disputa, atirou. acertando Wolfgang no ombro esquerdo.
Vários tiros, disparados pelos soldados, tiraram a vida
do jovem.
Wolfgang, com um misto de dor é ódio gritou:
– Fuzilem todos que estão aqui na praça.
As pessoas, incluindo Ève e a mãe, foram amontoadas de
encontro à parede.
– Sargento Franz, de a ordem.
Ele permaneceu quieto.
O Major dirigiu-se a ele, irritado:
– Você não me ouviu? – gritou, expelindo gotículas de
saliva. – O que está esperando?
O rosto de Franz estava rígido. Os olhos lotados de
lágrimas. Continuou calado.
Um tiro foi ouvido.
Wolfgang atirara na cabeça do sargento:
– Como eu sempre desconfiei, você não é um nazista. Matem
todos. Agora.
Fim
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