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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Terror



Talvez aqueles horríveis contos de terror em que todos morrem no final não sejam tão terríveis assim, pelo menos é o que parece pra mim, que já vivi isso, mesmo que talvez tenha sido apenas uma alucinação da minha cabeça, que confesso já não estar mais tão sã assim... E talvez, os monstros que vivem dentro da minha cabeça sejam mais temíveis que aqueles que ouço arranhando embaixo da cama.
É, minha historia não começa com "5 amigos numa viagem", mesmo porque nunca tive amigos, segundo porque minhas viagens ocorriam apenas dentro de mim. Essa história começa simplesmente comigo, e uma dose insana de comprimidos que levei com o intuito de me matar, ali, naquele vagão de trem abandonado... Porque? Apenas queria morrer ali, marcar eternamente o local onde uma jovem garota loira se matou, queria que jovens inventassem histórias sobre meu fantasma e me temessem... enfim, apenas para ser dramática, mas o que me esperava era um pouco mais de drama do que eu poderia suportar.
Me sentia até confortável naquele vagão, era gelado, achei q era o lugar perfeito pra eternizar minha alma, que também já tinha se tornado fria. Tomei 1 vidro e meio de um comprimido tarja preta qualquer que roubei da minha mãe, mas como nada é tão bonito como na tv, logo vieram os vômitos, um atrás do outro, e com aquele liquido nojento também se esvaia minha dignidade, ali, se contorcendo e se afogando em vomito dentro de um vagão de trem abandonado, onde ninguém poderia me ouvir, ou pelo menos era isso que eu achava.
Acho que tinha desmaiado, acredite em mim quando digo que quando as pessoas dizem que foi tudo muito confuso, é porque é verdade. Eu juro que quando abri os olhos novamente, preferia ter visto o diabo, mas eram aqueles malditos caras da escola, sequer os conheço mas parece que me odeiam, sempre me ofendendo, me chamando de estranha, me assediando, nojentos. Eles não deixaram eu me afogar no vômito, eu já tinha posto pra fora praticamente todos os comprimidos e meu suicídio já tinha ido por agua a baixo, mas estava extremamente fraca, meu estomago doía e minha cabeça estava pesada. De repente, me senti totalmente controlada por algo, talvez fosse a morte, e do nada recuperei as forças que tinha e as que não tinha, e ai aconteceu.
Enquanto André e seus amigos riam de mim, rasgavam meu vestido,e "decidiam" o que iam fazer comigo, um ódio demoníaco se apoderou de mim. Peguei um estilhaço de vidro, provavelmente de uma garrafa de algum bêbado que esteve ali, rasguei a garganta de André, os outros dois tentaram fugir, mas estranhas criaturas os seguraram, eram sombras negras e, seu eu pudesse dar um palpite do que elas eram, eu diria que eram o próprio medo, a maldade e o ódio ganhando forma. E eu, movida por algo que até hoje não sei, matei todos eles, um por um, os gritos eram musica para meus ouvidos, a cada vez que eu enfiava aquele pedaço de vidro em seus estômagos, me sentia uma artista, criando sua obra prima. Uma obra de arte chamada morte, feita a pinceladas de sangue e terror.
Aquelas terríveis sombras, encheram o vagão, estavam por todo o lado e sussurravam coisas que eu não entendia, levaram os corpos, acho que era como um sacrifício, não sei... Uma força se apoderou de mim novamente, e dentro da minha cabeça ouvi claramente:
"ESTAMOS TE DANDO UMA CHANCE PRA VIVER NOVAMENTE, MOSTRE AS SOMBRAS AO MUNDO, DÊ A ELES O TERROR QUE SÓ UMA PESSOA A QUEM ELES AMAM SERIA CAPAZ DE DAR, FAÇA ISSO, E CONSEGUIRÁ SUA ETERNIDADE"
Quando voltei a mim, estava diferente, não sei explicar... apenas não era mais eu, eu não tinha mudado em nada, porém estava mais bonita, mais confiante, eu era como uma estrela, era impossível não olhar pra mim. Nunca mais fui a mesma, a partir daquele dia todos passaram a me amar, tinha amigos, ia a festas, era tratada como uma rainha. E como as criaturas me disseram, eu dei a todos o terror que só os amantes da superficialidade mereciam, os humilhei, os tratei como lixo, apenas retribui o desprezo que eles tanto me ofereceram quando eu ainda não era o que eles queriam que eu fosse. Confesso, me divirto com isso, estúpidos inúteis, cuspo em seus rostos e ainda fazem tudo o que eu quero, não prezam pela própria dignidade, humanos são todos assim, foi por isso que quis tanto morrer antes disso tudo começar...
As vezes, quando o vento me fala que eu devo, vou ao velho vagão abandonado, os meninos que matei sempre estão lá, eles gritam e gemem porque as sombras os torturam, eles pedem pela mãe e então eu rio como o próprio diabo. As criaturas me falam o que devo fazer, e eu tenho um longo caminho pela frente, o líder deles disse que eu ainda serei muito importante no mundo, terei muita influencia e farei muitas pessoas sofrerem com meu poder, todos acreditarão nas minhas mentiras porque os farei se apaixonarem por elas, mas no final de tudo, lembrarão de Catanduva como sendo a cidade em que o mal nasceu.
Muitas coisas tão poderosas quanto as sombras tentam me parar, dizem que eu tenho que morrer para que não haja sangue derramado no futuro, mas elas moram apenas na minha cabeça, e conversam comigo em meus sonhos, por isso não durmo mais, não em casa. Toda noite vou ao vagão e durmo ouvindo o arranhar do caco de vidro no chão. As vezes ouço André sussurrar "Você vai morrer Alana" então eu respondo:
-Isso foi tudo que eu sempre quis.

Alana Bueno

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